Existem mais de mil anos de história em uma velha garrafa. — Paul Claudel

Começamos com a célebre frase do poeta e diplomata francês, Paul Claudel, que nos lembra que uma garrafa de vinho muitas vezes – ou quem sabe, sempre – está associada a história.

Mas e a história do vinho? Neste artigo vamos falar um pouco sobre o que os historiadores e pesquisadores consideram como o início do vinho, o seu desenvolvimento durante o Império Romano e sua expansão por todo o território onde hoje está a Europa, o avanço do desenvolvimento dessa bebida durante a idade média e a influencia dos monges nesse processo, e um pouco a respeito do progresso do vinho na França, além da famosa briga entre os franceses e ingleses até chegarmos aos tempos atuais.

Abaixo uma prévia dos tópicos que abordaremos:

 

Geórgia, Armênia e Turquia: indícios dos primeiros vinhedos

Cientistas e pesquisadores acreditam que o vinho surgiu por volta de 7000 a 5000 a. c. na região da atual Geórgia, Armênia e Turquia, à época chamada de Cáucaso, onde foram encontrados os primeiros indícios de um plantio organizado de vinhas.

AnforasEstudos arqueológicos indicam que, por volta de 3000 a. c., os Egípcios desenvolveram um complexo processo de vinificação – prensa e tanque de fermentação de argila. E de acordo com os historiadores, foram os Egípcios que ensinaram os gregos a cultivar as videiras e fazer a bebida que hoje conhecemos como vinho.

Alguns séculos depois, por volta de 1500 a. c., datam as primeiras ânforas, recipientes propícios para carregar vinho que, segundo historiadores, teriam sido criadas pelo povo que habitava a região do oriente médio.

Os escritos a respeito do vinho, por sua vez, aparecem nas narrativas de Homero – poeta grego muito famoso da antiguidade que teria vivido no século VIII a. c., como bebida doce e forte.

 

Império Romano: desenvolvimento e expansão do vinho pela Europa

Com o passar dos anos a viticultura se tornou essencial para os Gregos e se espalhou por toda a região, sendo difundida com a expansão do Império Romano. Com Júlio César, grande estrategista de guerra, o Império Romano chegou até a Bretanha e junto com ele a viticultura, que se desenvolveu muito na região onde atualmente está localizada Borgonha, na França.

Além da expansão, é nesse período que aparecem os primeiros registros sobre o processo da viticultura, desde a poda até a colheita da uva, bem como a primeira compilação a respeito dos vinhos, feita por Galeno, médico de Marco Aurélio, Imperador Romano no período de 161 a 180 d. c..

Há indícios de que no final do Império Romano o transporte do vinho passou a ser feito por meio de barris de madeira, que substituíram as ânforas. Acredita-se que essa nova forma de transporte do vinho foi inventada quando os celtas passaram a vender vinho para a Itália.

Com a queda do Império Romano, a Igreja manteve o cultivo das videiras e aprimorou a produção do vinho.

 

Idade Média e a influência dos monges no aprimoramento dessa bebida

A influência da Igreja foi muito importante na produção do vinho. Foi na idade média que o vinho, da forma como conhecemos hoje, começou a surgir.

Por volta de 1100, Bernardo de Fontaine, abade francês, fundou a ordem dos monges cistercienses, que revolucionou os vinhedos de Borgonha. Os monges eram jovens e dedicaram-se à viticultura desde a fundação da ordem. Com o trabalho árduo, aprimoram muito a cultura do vinhedo e a produção do vinho.

No fim do século X, Bordeaux era a única região vitivinícola da França que não estava sob o comando da Igreja, mas somente no final do século XII que os vinhedos de Bordeaux tiveram uma explosão de crescimento.

 

França e Inglaterra: a eterna rixa

História do Vinho Vinhedo Bordeaux OutonoEm 1152, Leonor de Aquitânia, ex-rainha Francesa, casou-se com o então Duque inglês Henrique Plantagenet, que anos mais tarde tornou-se Henrique II, Rei da Inglaterra, o que marcou, definitivamente, a história de Bordeaux. Isso porque, após o casamento, os comerciantes dessa importante região na história do mundo do vinho, durante o reinado de João Sem Terra, filho de Leonor, passaram a fornecer vinhos para a corte britânica.

Por muito tempo a região ficou separada de todo o resto da França. Depois da morte da Rainha Leonor, a Bordeaux sofreu muito com as guerras e batalhas pelo domínio da região que somente acabaram com o fim da Guerra dos 100 anos, que durou de 1337 a 1453, quando a região passou para o domínio definitivo dos franceses.

Mas mesmo depois da reconquista francesa, o comércio com a Inglaterra continuou, pois o vinho de Bordeaux já tinha conquistado fama e boa reputação entre os ingleses.

 

Origem de algumas importantes regiões vitivinícolas francesas

Na água refletimos nossa própria face; no vinho, visualizamos a alma de outrem. — Provérbio Francês

A França é um país que se destaca muito no mundo e na história do vinho. Quem nunca pensou na França enquanto pensa num vinho? Vinho, quase sempre, remete ao velho mundo, especialmente à França!

A região de Bordeaux, após a reconquista pelos franceses, sofreu muita influencia dos comerciantes holandeses que, além de dominar a compra do vinho da região, foram os responsáveis pela drenagem da região de Médoc, sub-região que atualmente é a mais importante de Bordeaux.

Na atual região de Avignon morou o papa Clemente V que, influenciado pelo Rei da França, levou a sede do papado para essa região por volta de 1308. Os católicos cultivavam vinhedos ao redor do novo Castelo do Papa, o que deu origem a um vinho que é famoso até os dias atuais – o Châteauneuf-du-Pape (castelo novo do papa).

Por volta de 1670 Dom Pérignon, monge perfeccionista, foi nomeado como tesoureiro da abadia de Hautvillers, região que atualmente é chamada de Champagne. A fim de gerar mais renda, o monge aprimorou a produção, criando regras para melhorar a qualidade do produto e introduziu novas normas de cultivo e vinificação. Uma delas fez com que o vinho ficasse efervescente (as famosas borbulhas do Champagne).

O processo foi aprimorado pela viúva Nicola Barbe Clicquot Ponsardin, que desenvolveu o sistema de remuage, técnica para retirar os sedimentos de leveduras mortas da garrafa.

 

A colonização e o desenvolvimento do vinho no novo mundo

As primeiras videiras começam a aparecer na América do Sul no meio do século XVI, trazidas pelos colonizadores Portugueses e Espanhóis, pois o vinho não suportava a longa viagem. Da mesma época datam as primeiras videiras da África do Sul.

Na metade do século XVII mudas europeias passam a ser importadas para serem plantadas nos Estados Unidos. E no século XX, nesse continente, nasce a ideia de vinhos varietais, ou seja, vinhos feitos a partir de um único tipo de uva – produto que transformará a reputação do vinho norte americano e de todo aquele proveniente do chamado “Novo Mundo”.

 

Marcos modernos – e alguns não tão modernos – que revolucionaram a história do vinho

 

Fatos não tão modernos…

Garrafas de VinhoA revolução industrial também revolucionou o mundo do vinho. Apesar de as primeiras garrafas de vidro serem bem antigas, somente com o boom da indústria e com a produção em série que as garrafas passaram a ter qualidade e bom preço. Com isso, grande parte dos produtores passaram a ter acesso ao modo seguro de guardar e vedar o vinho.

A cortiça já era usada para vedar a garrafa, mas sempre com um pedaço para fora para facilitar sua retirada. Somente por volta de 1680 que surgiu a primeira menção a “um parafuso de aço para retirar rolhas” – apetrecho que hoje chamamos de saca-rolhas!

Por volta de 1860, o Imperador Francês Luís Napoleão convocou o cientista, também francês, Louis Pasteur, para entender porque os vinhos ficavam intragáveis e solucionar o problema. Pasteur descobriu, então, que a fermentação ocorria por força das leveduras e criou um método para matar as bactérias sem alterar o sabor do vinho – a “pasteurização” que, de forma simplificada, consiste em aquecer a garrafa por tempo suficiente para matar as bactérias sem alterar o sabor da bebida.

Nessa mesma época a filoxera, famosa praga que atacou os vinhedos de toda a Europa, revolucionou a forma de plantio das videiras. A partir desse ataque, os europeus mudaram a forma de cultivar as vinhas, passando a enxertar as castas sobre cavalos de vinhas americanas, resistentes à praga.

 

… e os mais recentes!

Tanques Aço InoxidávelDurante a década de 60 os tanques de inox, que proporcionam melhor controle de temperatura, começaram a ser usados em larga escala do vinho.

Na década seguinte, na Itália, Mario Incisa dela Rocchetta e Piero Antiori começam a produzir vinhos “fora da lei”, acrescentando a uva Cabernet Sauvignon, proibida na região, ao blend com a local Sangiovese. Ai o nascimento do mundialmente famoso Supertoscano.

Em maio de 1976, num concurso internacional de vinhos franceses e norte-americanos, Steven Spurrier propôs uma degustação às cegas. Os jurados – todos franceses – elegeram como melhor os vinhos norte-americanos. A partir desse momento o mundo vinho passou a mudar, pois o mundo descobriu e reconheceu que existiam grandes vinhos fora da França.

Logo na sequência foi publicada a primeira Wine Advocate, newsletter de Robert Parker (RP) com resenhas descritivas, notas do sistema de 100 pontos e características sensoriais dos vinhos.

 

História do vinho no Brasil

Com os colonizadores vieram as primeiras mudas de videiras. Brás Cubas, fidalgo nascido no Porto, foi o primeiro viticultor e plantou as videiras na região litorânea de São Paulo, onde hoje está a cidade de Cubatão.

A experiência não deu certo. Obstinado, Brás Cubas fez nova experiência, dessa vez bem sucedida, plantando videiras no alto da serra, onde atualmente está a cidade de Taubaté.

O vinho começou a ser produzido e por volta de 1640 foi feito a Ata da Sessão de Implantação da Câmara de São Paulo tratando da padronização da qualidade e dos preços dos vinhos.

Nesse mesmo período, com a colonização do nordeste pelos holandeses, Mauricio de Nassau início o cultivo de vinho na ilha de Itamaracá, para suprir o consumo de toda a nova população da região.

 

Mas a euforia do agricultura durou pouco… só até a descoberta do ouro

Com a descoberta do ouro a viticultura foi deixada de lado e, consequentemente, o preço do vinho subiu e passou a ser objeto de desejo e símbolo de riqueza. Com o crescimento do Brasil, começaram a surgir pequenas industrias que retiravam receita de Portugal. Por essa razão, para preservar a receita de Portugal, Dona Maria I, a Louca, em 1785 proibiu toda a atividade manufatureira no Brasil, o que, seguramente, sepultou o desenvolvimento da indústria do vinho.

Posteriormente, com a vinda da família real para cá, os portos foram abertos e vinhos de todas as partes do mundo passaram a ser importados pelo Brasil.

No reinado de D. Pedro II – por volta de 1870, a Serra Gaúcha passa a ser povoada por imigrantes italianos, que deram inicio à indústria vitivinícola brasileira. Para organizar a produção, distribuição e venda do vinho para o resto do pais, e também aumentar a arrecadação de impostos com a comercialização do vinho, o governo incentivou a constituição de cooperativas, instituto de grande sucesso em outros países.

 

Em 1910 já existiam mais de 30 cooperativas e em 1912 foi fundada a Federação das Cooperativas do Rio Grande do Sul

Problemas políticos, entretanto, fizeram com que as cooperativas sumissem, fazendo com que as negociações voltassem a ser individuais.

A partir de 1920 os produtores gaúchos começam a buscar mais qualidade para seu produto. Em 1929 foi fundada a Sociedade Vinícola Riograndense – Granja União – que passa a comprar e escoar toda a produção de uva e vinho de Caxias do Sul.

Essa Sociedade estimulou a volta das cooperativas e muitas delas existem até hoje, como a Cooperativa Agrícola Garibaldi. A qualidade da produção melhora com os ensinamentos do professor Celeste Gobbato, italiano que fincou raízes no Brasil.

Foi a invasão de multinacionais, como a Martini e Rossi, da Itália, a Cinzano, associada à francesa Chandon, e a Almadén, dos Estados Unidos, que impulsionou a produção nacional, pois mostraram para os produtores locais a necessidade de modernização e de uma administração profissional.

Tradicionais famílias, como Salton, Miolo, Garibaldi, Pizzato, Dal Pizzol, Valduga, Pedrucci, Aurora, dentre diversas outras, entendem a necessidade de modernização e se profissionalizam para revolucionar a história do vinho brasileiro e chegar até os dias atuais, com prêmios internacionais e destaque maior a cada ano!

 

Esperamos que tenha aprendido um pouco sobre a historia do vinho, bebida que tanto apreciamos! E se tiver mais informações para agregar, divida conosco nos comentários abaixo!


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